A cidade

Há muito cimento

E no pavimento

Tudo a circular

Falta o arvoredo

Aponta-se o dedo

Estão-se a marimbar

A população

Cheia de razão

Vive atribulada

E à sua volta

Há muita revolta

E não se passa nada

O cão coça a pulga

Esta enceta a fuga

P’ra se abrigar

O velho resmunga

Que o puto é xunga

E está a chatear

Tem a prostituta

Na esquina, astuta

Com sorriso maroto

Ao lado o Emplastro

Que pensa que é astro

Sorri para a foto

O metro lá chega

E alguém escorrega

Co’a pressa de entrar

Vem o arrumador

Que diz que é melhor

Pedir que roubar

O polícia autua

O carro na rua

Que está a estorvar

O Zé cauteleiro

Faz grande berreiro

No seu apregoar

O pimba peralta

Trás a música alta

Para ser notado

Um pouco mais à frente

Um montão de gente

Com ar complicado

O Quim espingardeiro

Passa o dia inteiro

Sem ter que fazer

Passa o atleta

Na sua bicicleta

A treinar p’ra correr

É esta a cidade

Que em boa verdade

Me vai acolhendo

Tudo atarefado

Nem olham pró lado

E lá vão vivendo.

Gaspar Silva
Enviado por Gaspar Silva em 13/03/2009
Código do texto: T1483887