Lucidez da indecisão
Ignorei por muito tempo o fato. Dissociei.
Não toquei no assunto. Não tocava no assunto. Ignorava.
Fiz-me de cega, e surda e muda. Dormia.
Insistias, e insistias, e insistias. Acordei.
Lentamente abri meus olhos. Fixei meu olhar.
Vejo-te, ouço seu som; emito minha voz. Tremia e tremo
Um pavor subiu pelo meu corpo. Quero voltar a dormir.
Dormir, sempre dormir. Dormi pra sempre. Ser feliz.
Rejeitar viventes, e sentimentos. Amores com nos,
Amores confusos, confiscados, pavorosos,
Enganosos, psicóticos, atrevidos, escondidos.
Teu olhar, meu olhar se permitem. Sinto-te.
Será verdade? Será mentira? Será engano?
Será real? Será matrix? O que será?
A pavorosa solidão se esvai aos poucos.
O pavor arranha meu sentimento. Lucidez.
Em viva voz ouço declarar-me. Quero-te.
O que queres; não sei ao certo. Não sabes ao certo.
Sei que queres o querer. O que não sei. Sei bem o meu querer.
Amor, amado, amante. Poeta, poesia e musa. Entrelaçados.
A minha pele, os meus cabelos, as minhas mãos, o meu corpo. Tocados
Não tocas minha pele, os meus cabelos, as minhas mãos, o meu corpo.
Sentimos; o que sentimos. Permitimos o sentimento.
Aonde sentes, se é que sentes; o que sentes? O que sentimos?!
Sinto. A solidão que ficou. O nada decidido.
A indecisão da decisão. A moeda ao ar.
Murmúrios e murmúrios. O tempo passando, passando,
O chão se afastando; o vento soprando a moeda caindo.
Chamam-te de meu. Meu amorzão, meu maridão
Espalham notícias no ar “De meu” Possuído
Declaraste-me baixinho, te quero
Bem me quer, mau me quer; bem...
Sei bem o meu querer
Declarar o meu Amor; o humor Amor
Rascunhar sentimentos, ter pavor do fim
Sem esperar a moeda pousar.
Guardo a chave do sentimento
Fecho a janela da alma
Vivo, viverei sem a pavorosa indecisão
Do chão se afastando...