O amargo do café

Sinto o gosto amargo no café da manhã...

O gosto que me debruço todos os dias.

O cheiro suave e o impertinente tom da escuridão

Tom esse – ofegante, impuro e assaz...

O tom NEGRO!

Amargo tom da vida

Café entorpecente do real.

Fragrância desejada cobiçada...

O amargo som pairando no infinito.

Sempre com as maliciosas vicissitudes do gosto

Sem se quer ter algum doce –

[um doce branco, puro, cristalino...

Café amargo da vida!

O café que experimento, saboreio, excreto...

O café que vivo

E o amargo que tomo

[tomo pra não parar...

[pra não morrer!

Amargo tom no entanto da sabedoria empírica,

Dos sentimentos puros e frágeis.

Amargo tom dos loucos românticos

Dos Wertes inadimisíveis

Das melancolias em noites negras...

Amargo tom

[o sofrimento do mundo.

Amargo café da manhã!...

Amargo como a vida

Como a liberdade

[amarga!

O amargo gosto da derrota.

O amargo sofrimento da construção.

O amargo em si do café

O amargo ambíguo da existência.

[amargo da filosofia...

[da indagação humana!

O amargo da ação-reação dos sentidos

Do gosto insolúvel do erro...

Amargo da matéria, do corpo, da estrutura...

O amargo do último fio existente.

– A amargura têxtil da pós-felicidade –

[...] O amargo do café da manhã...

Terminou!

Mas, o amargo no sentido da vida...

Começou!

Grégori Augustus Reis
Enviado por Grégori Augustus Reis em 05/03/2009
Código do texto: T1470192
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