Poetar
Não sou poeta, se poetar for
Rimar amor com dor
Ou com sofredor.
As palavras estão aí,
Prontas para serem escritas.
Prontas para se ligarem e formar
Um quebra-cabeça significativo.
Este poema não tem rimas.
Não é por isso que deixará de ser poema.
Não é por isso que deixará de ter voz.
O poema é um vaso com flores:
Se a forma é bonita,
Mas o conteúdo for vazio,
Será sem graça e sem sentido.
Se a flor for bonita, mesmo que o vaso não seja obra-prima,
A flor brilhará tanto que o vaso não terá tanta importância.
Pois a beleza não está na forma e nem nos olhos de quem vê.
Está no conteúdo e no coração de quem o entende.
Não sou poeta, se poetar for
Rimar amor com dor
Ou com sofredor.
Eu sinto, para depois pensar, para depois agir.
Tudo está ligado: razão, emoção, ação.
Um poema de sensações apenas não faz sentido.
Nem o poema de pensamentos frios racionais.
Pois um não encontra seu caminho
E o outro não sabe de onde veio.
Poetar é refletir
Não refletir só racionalmente
Que racional não sente
Nem emocionalmente
Que emocional sem ordem se perde.
Mas para que refletir?
Hoje não temos tempo
Temos que correr, estudar, trabalhar
Na verdade, refletir é pensar
Todo mundo sabe disso, mas é como não se soubesse.
Porque faz as coisas sem pensar
Agem apenas de acordo de com suas sensações
Correm sem saber porque estão correndo.
Não sou poeta, se poetar for
Rimar amor com dor
Ou com sofredor.
Refletir é poder escolher.
Se você não pensa não consegue escolher.
Se você não pensa você não consegue discernir as coisas.
Poetar não é só sentir.
É pensar também.
Cristiano Xavier