MEU PRIMEIRO VERSO

Meu primeiro verso

(só pode ter sido um verso),

Foi poeira em ventania.

Saiu solto e leviano,

Vicioso e triste.

Fiz na franqueza,

Mas inventando palavras,

Como tudo de menino.

Fiz desordenado,

Ignorando o acerto,

Deixando especular

O som enternecido.

Meu primeiro verso

(só pode ter sido um verso),

Nem sei se foi meu,

Sei que foi de sonho

Porque não decorei.

Era para ter uma rima,

Uma rima que fosse,

Mas que rimasse no fim.

De tanto tentar

Fiz o verso e esqueci.

Das tantas que tentei,

Nenhuma eu escrevi.

Meu primeiro verso

(só pode ter sido um verso)

eu enfeitei um bocado

Para depois então

conceber a definição,

Que ainda hoje não sei.

Não foi de passagem

Não tinha amor

E nem flor como tema

Não tinha cobiça

Nem mulher eu julgava.

Meu primeiro verso

(só pode ter sido um verso)

Foi feito cru e insípido

Apenas cultivado

Inverossímil e hostil

Curto e brejeiro

Simples e instigante

Porque meu primeiro verso

Foi chorar de paixão

Chorar pela vida

Sem saber ainda da morte.

Meu primeiro verso

Só pode ter sido um verso

Porque tudo eu juntei

E de verso em verso

Acabei por juntar meu caminho

Fazendo da minha estrada

meu rumo a poesia.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 24/04/2006
Código do texto: T144521