O INCURÁVEL APRECIADOR
Alguém proclama que eu sou homem casado e bem casado é notório que de fato sou;
Mas eu carrego há muito esse instinto que até aqui me acompanhou e que tão visível é;
É que eu aprecio tanto a Mulher – essa pintura feita pelas Mãos do Criador;
Que mesmo sendo o fiel homem que sou, sigo deslumbrado pescador perante a radiante maré!
Mulher pra mim é uma sagrada fonte de iniqüidades;
A gente mente por meio das verdades, a gente peca movido de pura inocência;
É do homem a mais ingênua indecência, é sua liberdade por trás das grades;
Que eu, no auge de minhas serenidades, admito ser minha única demência!
Mal posso compreender o tal discurso moralista que nisso vê as marcas de um punhal;
Pois aprecio sem a índole do mal, e não protesto minha grata natureza;
Como não admirar tamanha beleza que do mundo faz um arranjo floral?
Coisa mais perfeita Deus não fez igual e só lamento se há quem prefira a caça de outra presa!
Tal como as aves não adulteram quando se interessam por outros ares;
E nem o vento trai os mares, varrendo as correntes que quiser;
Meu coração todos sabem de quem é: a incomparável rainha de meus altares;
Mas não consegue conter os seus olhares, quando percebe o desfilar de uma mulher!