O INCURÁVEL APRECIADOR

Alguém proclama que eu sou homem casado e bem casado é notório que de fato sou;

Mas eu carrego há muito esse instinto que até aqui me acompanhou e que tão visível é;

É que eu aprecio tanto a Mulher – essa pintura feita pelas Mãos do Criador;

Que mesmo sendo o fiel homem que sou, sigo deslumbrado pescador perante a radiante maré!

Mulher pra mim é uma sagrada fonte de iniqüidades;

A gente mente por meio das verdades, a gente peca movido de pura inocência;

É do homem a mais ingênua indecência, é sua liberdade por trás das grades;

Que eu, no auge de minhas serenidades, admito ser minha única demência!

Mal posso compreender o tal discurso moralista que nisso vê as marcas de um punhal;

Pois aprecio sem a índole do mal, e não protesto minha grata natureza;

Como não admirar tamanha beleza que do mundo faz um arranjo floral?

Coisa mais perfeita Deus não fez igual e só lamento se há quem prefira a caça de outra presa!

Tal como as aves não adulteram quando se interessam por outros ares;

E nem o vento trai os mares, varrendo as correntes que quiser;

Meu coração todos sabem de quem é: a incomparável rainha de meus altares;

Mas não consegue conter os seus olhares, quando percebe o desfilar de uma mulher!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 12/02/2009
Código do texto: T1435229
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