O soldado desconhecido
Haverá sempre uma guerra
Por onde ele ande perdido
O soldado desconhecido
Sai de casa
Apenas porque o mandam
Porque é o seu dever
Sendo que “dizem-lhe”
Nada tem a perder
O soldado desconhecido
A não ser a vida
E não qualquer ideal
Pois esse ficou para a história
E para os que fazem a política
E tornam a morte banal
O soldado desconhecido
Em qualquer trincheira
Em qualquer campo de batalha
De todos os tempos
Ele lá está, para que ela seja ganha
O soldado desconhecido
O seu nome
Apenas é sabido
Pelos camaradas de sorte
A quem chamam amigo
O soldado desconhecido
Porque ele é o ferro, a espada
A pólvora o fogo
Que perde e ganha qualquer conflito
Mas na realidade ninguém lhe conhece a cara
O soldado desconhecido
E canta belas canções
Antes da próxima chacina
Musicas que parecem saídas do céu
De onde o tiraram
Porque o seu canto rouco
Também poderá ser o meu
O soldado desconhecido
Por solidariedade
Por saber que um dia poderei estar no teu lugar
Deixando quem amo
Numa chacina
Que se lembrem de inventar
O soldado desconhecido
Porque há sempre um vilão
Ou um anónimo que ocupem uma mortalha
Estando ele em primeiro lugar
Para essa terrível vaga
De morrer
Nunca soube porquê
Ou de viver com os demónios
Do que ele por lá fez
Enquanto os seus donos
Limpam o pó e as responsabilidades
Das suas medalhas
Porque a ordem deve ser mantida
E a face salva
Mas nunca, jamais à sua custa
Porque haverá sempre quem arque com as culpas
E jamais com as glórias
E vocês sabem bem a quem me refiro
Aquele cujas cinzas anónimas serão o adubo involuntário
Do próximo conflito:
O soldado desconhecido
Poema protegido pelos Direitos do Autor