Prodigalidade
Eu quero docemente a vida malgastar
Em coisas tão supérfluas e desnecessárias,
Que a morte há de colher-me amena e com vagar
Como se eu fosse a flor das musas funerárias.
Viver como quem sonha. E nunca despertar
Na síntese que é pão nas horas tumultuárias.
O olhar em voo branco - um cisne a pervagar
Na face repousada em brumas solitárias.
Viver como se a vida fosse apenas cor,
Dispersa a voz do vento, a mão compondo espumas
E o coração em verdes plasmações campestres.
A morte há de encontrar-me inútil como a flor:
- Um vulto esmaecido em solitárias brumas.
- Um nada que se entrega às mutações terrestres.