Mineralidade


Quando penso nas mágoas de que me libertei,

Concluo que vale a pena sonhar outra vez.

Isso recupera uma adolescência

Cronologicamente perdida.

Quem inventou o tempo físico,

Contou uma mentira

Na qual a humanidade inteira acreditou.

Mas isso não importa mais tanto quanto o sorriso

Que retornou aos meus lábios

Ou quanto a recuperação da capacidade

De olhar docemente para a vida.

O picadeiro em que se refez a minha história

é o mesmo:

Mamãe morreu,

Papai morreu,

Eu também vou morrer.

Mas o gesto de amor com que marco

Os momentos que experimento,

Este tem jeito de eternidade.

E quando a chuva umedecer meu corpo mineral,

Enquanto o tempo configurar-se-á ainda ilusão,

Outras emoções passearão pela calçada.

Amém!

Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 01/02/2009
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