Carne
O apreço com que envolvemos a fugidia realidade
Tinge-nos de eternos, torna-nos personagens de comédia.
Difícil imaginar ser comédia esta paisagem assim tão verde,
Esta tarde doce,
Este frêmito na alma.
O som, a paz, a melodia,
O amor, o desamor, tudo é tangível.
O eterno ainda não chegou,
Mas já se tranfigura em tudo o que exaure,
No fedor
E nos cabelos.
Enquanto caminhamos na moldura,
Espraiamo-nos por veredas abertas ao sol, ou à lua.
Tudo o que nos comove, nos locomove... motivo, não é,
Mas a espera,
A espera,
A espera.
Não, meu amor, ledo engano.
O pior ainda não passou
E a luta é por nada.
Por aqui, há antibióticos e vermes
E o poeta que tem que aprender a colorir a lama
Pois é nela que a vida se molda.