1976 - Incoerências

Não contente de apenas observar o instante que passa,

quero gravar a vida,

prendê-la nas palavras,

que, escassas,

batem no tempo fugitivo,

espancam-no e podem retê-lo.

Podem revolvê-lo e trazer de volta carícias distantes,

Essas passageiras dos segundos.

São bolhas que estouram alegres na minha cara

São tapas macios e casacos fofos.

E mergulho nesse redemoinho mirabolante, anacrônico.

Quantas incoerências!

Como sou incoerente!

Como me afogo em planos coloridos e sonoros!

Como me engasgo sedenta nesse gole de ar!

Na floresta, a moça caminha sucinta e leve,

por entre ramos verde-amarelos e cachos de flores matizados em degradê

E o sopro do sol, do céu, dos vegetais rasteiros?

Como é bom!

Mas chove agora na noite lenta e malbaratada pela argúcia dos ímpios

E o que direi, o que dizer?

Que vontade de comer doces gostosos, crespos, gentis

Ah, a vontade de voar ao mundo das fadas

e ninar placidamente feito bebê

Mamar suavemente e depois dormir, sonhar...