A FRIEZA DOS MECENAS
O sol da hossana ao telúrico conhecimento
Não quer mais iluminá-lo intensamente:
Sonha, ao contrário, sequiosamente
Em vê-lo sucumbir,
De maneira lenta, estertorosa e pungente,
De fome, de banzo, de sede.
Ele se cansou de ser
A ponte para a mágica
Popular verbena:
Não quer mais
Que o povo
Faça reverência
Á sua gênese, ás suas raízes,
Aos laboriosos agentes
Que nos lavraram e nos esmerilaram
A mente da Terra do regaço quente.
Contudo,
Algumas filhas
Da sofrida feérica Argila
Suplantaram a castração da vontade:
De posse da chama da onipotente tenacidade,
Fazem florescer edens da resistência
Ás nuvens promotoras do genocídio
Que alveja o nobre bailado.
O bailado carpe,
Em fluxos de veemência,
Um mar de tristeza tão funda
Que aflora, em que o contempla,
Lágrimas de pena, dor, impotência!
Não,
Mesmo trôpego
E sem dínamo financeiro,
O bailado não entra na rota
Do influxo:
Ainda que corra
O risco de ser repasto da recôndita piranha,
Teima, chora, foge, luta
E não se rende nunca!
Rende-se: entrega-se
Ao Frevo, ao Reizado,
Ao Maracatu, ao Xaxado,
Ao Coco, á Chula,
Ao Congado, ao Bumba-meu-boi,
A magia da nossa telúrica Dança.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA