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Nestas folhas soltas
queria rasgar sentimentos
dilacerar medo e agruras
falar duas ou três palavras
absinto amargo bebi muitas vezes
o gosto do fel minhas mãos experimentaram
olho à volta e não há perspectiva
todos os homens são como sombra e desejo
se escondem naquilo que são
ofuscam sua verdadeira identidade
estão mortos, na verdade,
imagine
todas as bombas do mundo
explodindo perante a retina
cuidadosamente, num extático romper da aurora,
nestas folhas soltas
queria guardar o vento
petrificar os instantes em que tocou teu rosto
vez após vez
sem ter aonde ir
sem ter com quem dividir rancores,
venenos, peçonhas que matam apenas a mim mesmo
oh Deus!
O tempo passa, causticante
e arranca de nós o que de melhor poderíamos ter
queria
nestas folhas soltas
definir
o que seríamos sem nossa preocupação egoísta
conosco mesmo
o que faríamos
sem o medo
de viver e morrer?