SADISTIC GARDENS OF FREEDOM
Não, não são benígnas as flores que nascem e medram naquele jardim. Não, definitivamente, não são provedoras da concórdia cosmopolita enfim.
Ah, bem sei que, por trás de sua compleição garrida e inabalavel-mente protetora, existem sôfregas plantas devoradoras que querem, com seu néctar langoroso, degustar os jucundos palácios da translúcida credulidade nua, mas, para nós, tão indecifrável: inde-cifrável por estar envolta em dardejante, austera e indistinta bruma de quase pétreos lirismos cujas águas há poucos dão a dádiva de nelas navegarem tranqüilos, senhores supremos de seus sublimes sortilégios e maravilhosos tesouros escondidos.
Quem saiba neles floresçam secretas masmorras da fotossíntese inversa, onde entrem constelações estelares de primeira grandeza;
e saiam infinitas monções de vazio elegíaco da não-primavera.
Então, assim, reféns da contraluz do ânimo,
são compelidas a ceder aos mortíferos encantos vilânicos
da garbosa fauna carnívora, sempre escrava da fome ferina:
fome de todos os plenilúnios, de todas as soberanias.
Afinal, cativa da fome da indizível intendência suprema do mundo, o qual nos alimenta e abriga como se estivesse a facultar, pela primeira vez, as tetas a um pobre nascituro.
Não, não são benígnas as flores que nascem e medram naquele jardim.
São, isso sim, megalomaníacos irrefreáveis;
rosas amantes da abiogênese, semeadas nos prados de Hiroshima e Nagasaqui;
intangíveis aeronaves a sobrevoar, daninhas, os céus ensan-güentados do Iraque;
câncer silente de uma nação por ele intermitemente fragilizada, inconsciente prisioneira da demência latente;
vermes a colher os frutos da sua miríade de maldades.
São, na verdade, porfim, os sádicos jardins da liberdade!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA