ESCOLHAS

Não lembrava mais das palavras doces de antigamente.

De como eram simples, e tocantes na sua simplicidade.

De como acarinhavam, reconfortavam,

e preenchiam os vazios do quotidiano.

Depois nasceram rotinas e cobranças,

vieram as etiquetas, em bando, gosmentas.

Querendo colar-se na pele, classificativas e rotulantes,

desgastantes pelo repudio que exigiam.

Muitas se descolaram com o tempo,

afrouxadas com o suor dos meus combates.

Outras nem chegaram a colar-se.

Mas todas deixaram cansaços e cicatrizes,

e algumas tiveram de ser arrancadas com os dentes,

em doloridos combates desiguais,

onde se tornavam impossíveis outras armas.

Com isso as palavras mudaram, no seu teor,

e a cautela diluiu brilhos e cerceou improvisos.

Mas subsiste a sua origem fundamental,

a mina de emoções onde borbulham e nascem,

e não sei mais viver sem elas.

Prova-se firme a sua constância.

Mesmo quando o acaso diminui o caudal desse rio

com que inundam as planuras das horas longas...

Por isso as escolho como caminho,

e me aceito nelas como destino.

Então, que elas sejam mais sábias e refletidas,

mas ainda capazes de incendiar e erguer.

De se fazerem presentes quando pretendidas,

e de acompanharem em longos vôos

os destinos que lhes aprouver.

Que transportem consigo doçura e beleza,

e todas as vibrações fortes de que a vida se veste.

Que a descrevam em obviedades e segredos.

Que sempre escrevam o poeta que as escreve,

e que para sempre possam traduzir

a emoção que as escolhe...

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28Nov2008

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 29/11/2008
Código do texto: T1309478
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