ESCOLHAS
Não lembrava mais das palavras doces de antigamente.
De como eram simples, e tocantes na sua simplicidade.
De como acarinhavam, reconfortavam,
e preenchiam os vazios do quotidiano.
Depois nasceram rotinas e cobranças,
vieram as etiquetas, em bando, gosmentas.
Querendo colar-se na pele, classificativas e rotulantes,
desgastantes pelo repudio que exigiam.
Muitas se descolaram com o tempo,
afrouxadas com o suor dos meus combates.
Outras nem chegaram a colar-se.
Mas todas deixaram cansaços e cicatrizes,
e algumas tiveram de ser arrancadas com os dentes,
em doloridos combates desiguais,
onde se tornavam impossíveis outras armas.
Com isso as palavras mudaram, no seu teor,
e a cautela diluiu brilhos e cerceou improvisos.
Mas subsiste a sua origem fundamental,
a mina de emoções onde borbulham e nascem,
e não sei mais viver sem elas.
Prova-se firme a sua constância.
Mesmo quando o acaso diminui o caudal desse rio
com que inundam as planuras das horas longas...
Por isso as escolho como caminho,
e me aceito nelas como destino.
Então, que elas sejam mais sábias e refletidas,
mas ainda capazes de incendiar e erguer.
De se fazerem presentes quando pretendidas,
e de acompanharem em longos vôos
os destinos que lhes aprouver.
Que transportem consigo doçura e beleza,
e todas as vibrações fortes de que a vida se veste.
Que a descrevam em obviedades e segredos.
Que sempre escrevam o poeta que as escreve,
e que para sempre possam traduzir
a emoção que as escolhe...
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28Nov2008