Rol de certezas

Não quero mais o sol

Não quero mais as estrelas

Não quero mais o brilho da lua cheia

Não quero mais a brisa suave das tardes

Não quero mais o calor do verão tropical

Não quero mais a chuva dos invernos rigorosos

Não quero mais as flores na primavera

Não quero mais as folhas que caem no outono

europeu

Não quero mais a Europa

Não quero mais o amor

Não quero mais a companhia de amigos

Não quero mais o medo de perdê-los

Não quero mais as virtudes da vida

Não quero mais os obstáculos da vida

Não quero mais as minhas tristezas

Não quero mais a felicidade alheia

Não quero mais chorar

Não quero mais as lágrimas que nunca verti

Não quero mais os sorrisos que não dei

Não quero mais as coisas que não vivi

Não quero mais as lembranças de uma vida

vazia

Não quero mais a esperança

Não quero mais o medo do futuro

Não quero mais a insegurança do presente

Não quero mais a perspicácia dos sábios

Não quero mais a inexperiência dos jovens

Não quero envelhecer

Não quero mais pisar onde já passei

Não quero ser redundante

Não quero repetir o que já disse

Não quero ser prolixo

Não quero resumir tudo em duas palavras

Apenas

Não quero contradições

Não quero mais o desespero

Não quero mais desistir na primeira tentativa

Não quero tentar de novo

Não quero a morte

E quando tudo mais me faltar,

quando a duvida pairar solene

ante aos meus olhos cansados

e não houver mais certezas

nem mais palavras a serem ditas,

espero que ao menos me reste

a convicção de saber

exatamente o que não quero.