Dois em mim
Nem sempre sou o mesmo
Ou nunca me compreendi,
Às vezes me paira um conformismo,
E, em outras a vontade de agir.
Me vejo como um ateu,
Zombando de um tal criador!
Volto o olhar para o céu,
Admirado com a obra do Senhor!
Não busco céu ou inferno,
Por que tal angustia me atara?
Só Desejo cumprir meu destino,
E romper de uma vez meu Samsara.
Contraditório, alguém certamente diria.
O barroco há muito se foi, meu caro.
E eu digo: livra-me então esta agonia
Não vês que minha doença é caso raro?
Minha moléstia é o pensamento,
Há um dualismo em meu ser.
Curar tal patologia eu tento,
Será que o remédio é o saber?
Quanto mais procuro aprender,
Mais antagônico parece meu duplo-ego.
Essa batalha, quem há de vencer?
O materialista ou o santo clérigo?
Talvez seja batalha inglória,
Viver sempre como dois eu terei.
E no sepulcro, estará em minha memória:
Quem fui? se fui, não sei.
Enfim, quando a morte chegar,
Um de mim, no universo, há de permanecer.
Quem sabe meu espírito, que não findará;
Ou somente meu corpo, que há de perecer.