Bem nas águas
Bastidores são recintos onde podemos estar a sós com nossa inspiração.
Nesses bastidores, deixamos de atuar a realidade para viver a fantasia.
Precisamos dessa fantasia para que possamos ter um riso fora
do contexto, uma lágrima fora de hora, uma insanidade consentida.
Estar no palco, brilhando como estrela, é magia sem destino.
Não quero o sorriso treinado. Quero todo o risco das profundezas desconhecidas.
Assim como uma maçã colhida na oliveira, tão doce quanto o tamarindo,
dispo-me das vestes para exibir o meu avesso.
E ouço, longinquamente, um aplauso em surdina.
Eu ouso sangrar a dor até sentí-la esvaída.
Bebo no gargalo a cachaça da alegria
Eu, personagem, tumultuo a letargia.
Finco a bandeira da desordem
Traço a rota inversa
E renasço das águas e não, das cinzas.