Dostoievskiana

Matei, mas não gostaria de ter matado

não matei, mas repudio não o ter feito

dentro da alma o desencontro perfeito

do rosto que não jurei ter amado

Digo: aborrece-me o tempo que cala

nas palavras da voz que agoniza

não o que tenho na tristeza precisa

nem o que a boca cruel rejeita e fala

Matei, fervilha a pérfida consciência

ao contemplar o rosto em sangue vertido

quantos dias amanhã terei vivido

com a figura horrenda da tua ausência?