Retorno
Peça de barro sou
vaso fragilizado, pluma, pó ínfimo e diminuto
camada fina na balança
que nada significa
nada requer
nada exige,
óperas atravessam as montanhas
adágios celestiais estilhaçam minha alma
minha tristeza
mil cantores poderiam declamar
a agonia serena e pastoril do meu ser
todas as vozes ilimitadas
imortalizariam,
moldado fui em dores, tecido em solidão
minha vestimenta era o orvalho
e das folhas secas de que fui tomado
nada restou senão o retorno
implacável e certeiro
ao pó,
música nos campos, veredas insondáveis
amigos mortos, flores dissipadas
quantos epitáfios deixaria eu
para milhões
de risos perdidos?
Sou de barro, matéria perecível.