O homem
O homem, esse bicho engraçado
Que se esconde na luz
Mostra-se na sombra
O homem, esse bicho preciso
Que disfarça em frente aos nus
Se aterroriza enquanto assombra
O homem, esse bicho sem par
Que expele água pura
E toma banho de ar
O homem, esse bicho das artes
Que se encanta com a moldura
E despreza o quadro e suas partes
O homem, esse bicho afinal
Que nasce predestinado
A ser completamente total
O homem, esse bicho do Estado
Que paga as contas do mês
Seja proletário, seja burguês
O homem, esse bicho dos iguais
Que fala cada dia menos
E diz cada dia mais
O homem, esse bicho
Que nada um oceano inteiro
E só morre quando chega a seu paradeiro
O homem, esse
Que não esmorece:
Vence
O homem não
É só realidade
Nem só de ilusão
O homem, esse bicho livre
Que então se invade
E se tigre
O homem
Quem
O sabe muito bem?
O homem, esse bicho histórico
Proparoxítono lúdico símbolo
Angélico metafórico
O homem, esse bicho frágil
Certeiro curandeiro
Forte sábio ágil
O homem, esse bicho de Pompéia
Que sem vulcão nem vento
Muda de idéia
O homem, esse grande invento
Magnífico do homem,
Seu tormento
O homem, esse bicho loquaz
Que anistia o imperdoável
E bombardeia a própria paz
O homem, esse bicho que berra
Tanto a carícia
Quanto a guerra
O homem, essa palavra
Que planta pássaros e bombas
Na mesma safra
O homem, esse palácio
De entrada difícil
De labirinto fácil
O homem, esse bicho tonto
Que ama a liberdade
E tem amor ao confronto
O homem, esse bicho
Que joga pérolas aos porcos
E encontra esmeraldas no lixo
O homem, esse bicho grande
Por que quanto mais diminui
Mais se expande?