Quando...
Quando reclamas que o gélido frio
Te atrapalhas as vontades e os planos,
Lembra-te de que num lar de confortos vazio
Os cobertores são uns poucos velhos panos.
Por isso quando o inverno te ofender
Cala teu egoísmo e põe o coração a aquecer...
Quando for a fome pouca e passageira
O motivo da tua incontrolada impaciência,
Observa que há casas humildes onde até a torneira
Está seca tamanha a necessidade e a carência.
Reflita tua queixa ante o estômago intransigente.
Conforma-o, pois a verdade poderia ser diferente...
Quando em teu emprego não tiveres promoção
Silencia de imediato tua tola ganância.
Há com toda certeza ao alcance da tua visão
Um alguém forçado à viver na mendicância.
E se vieres à afastar dele por exalar mau-cheiro,
Recolhe-te ao lar e experimenta cheirar teu dinheiro.
Quando te melindrares com a presença de teus familiares
Achando que te consomem o tempo além do teu esforço,
Visita um asilo onde pobres velhinhos aos milhares
Tem como paga o abandono mesmo carregando no dorso
As marcas de criar filhos com uma vida regada à suor.
Te envergonharás e tratarás à todos de um modo melhor...
Quando te entristeceres pelo supérfluo que não conseguiste,
Caminha pelas ruas da cidade e vê que não é ilusão
Um certo velho de andar curvado, porém que não desiste
De nos dias puxar uma tosca carroça à catar papelão.
Estende tua imaginação e imagina o porquê disto.
Descobrirás que é por medo da fome e pela fé em Cristo...
Quando teu problema for tua casa que ficou pequena
E teus sonhos não cabem mais nela, não julgues impossível.
Verifica a televisão pela imagem vinda através da antena
A quantia de moradores sob as pontes onde o incrível
É a capacidade desses humanos em acreditar no futuro
Mesmo estando avizinhados do lixo, tornados em monturo...
Quando na pressa diária não puderes atender à um pedinte,
Examina antes de tudo quem precisa mais de quem.
Afinal depois de hoje virá sempre o dia seguinte.
E se no amanhã não for tu, mas ele quem sobras tem?
E se tu fores aquele que a vida tornou em desgraça?
Aprende que dar a outrem abre saída onde orgulho não passa.
Quando o medo que te abala o íntimo for o de morrer,
Atesta através da tua consciência se há real motivo.
Esse temor o transforma num fraco à se esconder
Do destino que sobrevirá à todo qualquer vivo.
Repara em teu passado tuas ações, o que te aconteceu.
Vê se foi mesmo a morte que te achou ou foi tu que não viveu...