Nas grandes e nas pequenas coisas...
A poesia está em todas as portas
Gritada ao vento
Ou escondida nos cantos
Misturada às árvores que nascem do cimento
Às luzes que se querem lua
Às bocas que se dizem cruas
Guardada nas ruas
Nas praças e seus monumentos
No asfalto e seus excrementos
Manchada nas mãos que removem o lixo
Nos calos que lavram a terra
Nas vozes que gritam
No silêncio que cala
Na calma dos que acolhem
No suspiro dos acolhidos
Na pequenez do que se encolhe
Espalmada nas mãos das crianças
Na roda, nas cirandas
Em seus cantos e ternuras
Estampada nas mãos abertas que pedem
No rosto aflito que dorme
No olhar sereno do que sonha
Grande, alta, pequena ou em vão
Simulando danças no céu de outubro
Nas asas dos pássaros
Nos lábios acesos
Nas frases soltas
No vulto, no aviso
no delírio, no gemido
no ferro e no fogo
A poesia no mistério das folhas que caem
nas páginas que se viram lentas
nas palavras mal ou bem ditas...