The displaced person
Que minhas mãos cobrissem teus olhos na partida
como quem vela o ausente mais amado
minha estrada é a passagem sem som ou saída
onde atiro desconexa reminiscência do passado,
que os cartazes, outdoors, corpos inebriados nos rios
no frio da garganta que respira o caos, o transtorno
todos eles removam de mim a úlcera de risos sombrios
para torturar meu corpo repousando em terno adorno,
ser quem sou nos cantos das esquinas repisadas
pelos homens bomba, produtos, cadáveres ambulantes
não traz à alma o gosto das memórias destroçadas
pelos seres autômatos, escravos, párias itinerantes,
que minhas mãos tratassem a chaga, cruel, repugnante
como translúcido verso, retrato alvo, rosto deserto
para que num gesto desesperado e na dor lacerante
pudessem calar o áspero grito que sinto incerto,
eu vejo o homem que busca em sôfrega espera
a calma da solidão que navega insana nas veias
o homem anúncio – extático e morto na quimera
de abrigar corações de aço em castelos de areia !