Estorvo de uma Tarde Perdida
Às vezes
A vida é pra valer.
Agora, quem sabe lá?
Tentamos comprar certos aromas
Enfeitar um canto triste
Mas nem tudo é concreto
E ficamos pairando no ar,
Como se fosse possível
Encobrir toda a imparcialidade do vento.
Alguns sonhos são parciais
Algumas palavras, perdidas
E entre tantas frases e canções
Já nem meço o quanto andamos
Porque nunca poderemos saber mais nada,
Nenhum novo detalhe de nossa jornada;
Queria ao menos andar em paz
Poder tentar de novo
Refaver algumas trilhas mal traçadas
Repletas de histórias que foram tiradas de mim.
Queria mesmo um pouco paz;
Mas não aquela paz artificial
Que obriga o mundo a sorrir quadrado.
Meu desejo é o de me livrar de tudo
Largar cada destroço do mundo real pra trás
Sair por aí, em busca de um novo som
Sem rumo, sem trilhas,
Sair ao léu como barcos à derida
Marchando rumo a um horizonte vago.
Fazer valer cada segundo de pulsação
Sentir cada milímetro cúbico de ar que respiro
Perceber a vida, abraçar essa causa
Amarrar um sabor a mais em meu sorriso
Crescer feito arranha-céu
Provar pro meu mundo o quanto sou real
E acordar mais forte
Pronto pra explodir a qualquer instante.