Eu-destinatário
O cheiro da chuva recém-caída
abaixa a secura e poeira residuais
em sons de vento, frio e trovoada,
enxague na tormenta de sabores casuais.
Tudo mais limpo e clarinho
de fronte aberta à novas correntezas
acentua antigos planos e certezas,
lume do fervor que gosto tanto.
O sentido da Terra é o meio-dia,
alinhando-se buscando o eclipse total
ante astros sob acalanto descomunal.
Entre o sentimento e a ilusão uma fronteira
do caminho que trilha o homem são
vislumbrante da aurora e um pedaço de pão.
A água lava e leva o chorume,
o choramingo borra e traz à memória
o que poderia ter sido ou tinha,
mas é o sorriso que gama e arde
nos rasos lagos doces do ego,
com alegria nas zonas erógenas e a libido,
quando ares de curtição submergem
velhos momentos de paz que o remetem.
Cheguei para rimar, tira-lo do lugar,
fazer um verso lindo de chorar
de rir ou sem maiores vírgulas,
trema, ponto e vírgula ou etceteras.
Aspas aos dois pontos e o final:
incisos de rock, hip hop e jungle!
Outros ritmos e compassos aparecem,
velhas fórmulas e misturas acontecem,
e o que um dia se pensou estar perdido
retorna em novo tom recuperado.
Mesmas formas e conceitos valerão
diferençadas causas e conteúdos passarão
pelo crivel glorioso do ideal em graça
de quem um dia achou não te-la achada.
Isso e aquilo, que seja uma por vez,
e torço por maiores conquistas enfim
a acontecerem todas juntas por mim.
Porque alguns por quês retornam três
por que do mais não deixo a porta
aberta se fui eu a girar a maçaneta!
Partes de mim realmente parecidas
comigo haverão de serem conhecidas,
eu que agora, alento próximo,
me lembrei da baleias, do esquimó.
Me recordo de muitas coisas, causos
ao mesmo tempo e, ao redor dos espaços,
volto-me ao horário de vinda das monções
para tomarmos uma chuvinha ou uns tragões.
Amanhã ou depois, vivo tudo aquilo
que sonhei no passado pois ontem
projetei que se nós, tal e qual um totem,
edificamos a Terra Prometida como
nossa casa, então o tédio do sono
profundo só excitou as águas do Paraíso.