Faca de dois gumes
Faca de dois gumes
O vento açoitou
O lençol que estava
Sozinho ali,
Naquele varal trêmulo,
Quase esturricado pelo sol.
Veio a brisa
E o beijou ternamente...
O que quer o vento afinal?
E qual a intenção da brisa?
Nem todo açoite mata.
Nem todo beijo é doce.
O vento disse açoitar o lençol
Para lembrá-lo de que não está só
De que logo sairá dali
E voltará ao armário (sua casa)
Que em breve será útil
Outra vez.
Por sua vez
Disse a brisa ao lençol
Com um sorrisinho
Ao canto da boca...
Que o beijou
Para lhe acariciar
A solidão
E que precisava
Sussurrar lhe baixinho
Ao pé do ouvido assim:
“Conforme-se, a vida é assim mesmo...”
Em quem acreditará o lençol?
Até onde queimou sua razão
Sob o sol?
Adriana Kairos