Faca de dois gumes

Faca de dois gumes

O vento açoitou

O lençol que estava

Sozinho ali,

Naquele varal trêmulo,

Quase esturricado pelo sol.

Veio a brisa

E o beijou ternamente...

O que quer o vento afinal?

E qual a intenção da brisa?

Nem todo açoite mata.

Nem todo beijo é doce.

O vento disse açoitar o lençol

Para lembrá-lo de que não está só

De que logo sairá dali

E voltará ao armário (sua casa)

Que em breve será útil

Outra vez.

Por sua vez

Disse a brisa ao lençol

Com um sorrisinho

Ao canto da boca...

Que o beijou

Para lhe acariciar

A solidão

E que precisava

Sussurrar lhe baixinho

Ao pé do ouvido assim:

“Conforme-se, a vida é assim mesmo...”

Em quem acreditará o lençol?

Até onde queimou sua razão

Sob o sol?

Adriana Kairos

Adriana Kairos
Enviado por Adriana Kairos em 19/10/2008
Reeditado em 02/11/2008
Código do texto: T1236181
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