poesia da poesia

Contemple a palavra

Explora sua lavra

Sorve seus fonemas a se dissiparem no espaço

No eco imaginário da saudade.

Contemple a palavra se aliando ao gesto

Numa simbiose mágica a espreitar

o incrustado significado dos dramas pessoais

Contemple essa escrita

A métrica inconstante

E a transgênica das sílabas tônicas e átonos

O caminho sinuoso de altos e baixos

O encaixe do côncavo com o convexo

A revelar a face desnuda e misteriosa

Será face? Será máscara?

Será pele? Ou será véu?

Às vezes a imagem é o véu dos olhos

E a palavra é o véu dos sentimentos.

O que há sob seus olhos a gotejarem

assim a tristeza pungente?

E, nesses soluços

Qual é a sede que te perturba?

Contemple essa vida, nos monólogos

Escritos pelos vendedores nas ruas,

Nos pregões diários á porta dos tribunais,

Dos cartórios, dos bares fortuitos

E dos bêbados a recitarem em Pessoa,

A pessoa que ainda não se achou...

Choca essa trama dentro de tua alma,

Que vai se partir e se libertar um dia

Desse fardo...

Desse pesado corpo

A suportar gravidade,

A suportar o atrito constante

Contra a inércia...

da janela do quarto

eu vi o tempo passar,

vi teu rosto se apagar lentamente,

vi meu lenço bordado esmaecer

de tantas lágrimas que abrigou

do alto da janela

o mundo parece tão geométrico

faz tanto sentido e

sentido nenhum ao mesmo tempo.

Contemple essa reta imaginária

Esse infinito concreto

feito de vigas, tijolos e tetos

Que encobrem a vergonha

A vergonha de existir

De questionar surdamente

E não obter respostas...

Contemple essa palavra e

sinta,

veja como ela nos alivia

de toda mediocridade:

- poesia.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/10/2008
Reeditado em 21/10/2008
Código do texto: T1216916
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