poesia da poesia
Contemple a palavra
Explora sua lavra
Sorve seus fonemas a se dissiparem no espaço
No eco imaginário da saudade.
Contemple a palavra se aliando ao gesto
Numa simbiose mágica a espreitar
o incrustado significado dos dramas pessoais
Contemple essa escrita
A métrica inconstante
E a transgênica das sílabas tônicas e átonos
O caminho sinuoso de altos e baixos
O encaixe do côncavo com o convexo
A revelar a face desnuda e misteriosa
Será face? Será máscara?
Será pele? Ou será véu?
Às vezes a imagem é o véu dos olhos
E a palavra é o véu dos sentimentos.
O que há sob seus olhos a gotejarem
assim a tristeza pungente?
E, nesses soluços
Qual é a sede que te perturba?
Contemple essa vida, nos monólogos
Escritos pelos vendedores nas ruas,
Nos pregões diários á porta dos tribunais,
Dos cartórios, dos bares fortuitos
E dos bêbados a recitarem em Pessoa,
A pessoa que ainda não se achou...
Choca essa trama dentro de tua alma,
Que vai se partir e se libertar um dia
Desse fardo...
Desse pesado corpo
A suportar gravidade,
A suportar o atrito constante
Contra a inércia...
da janela do quarto
eu vi o tempo passar,
vi teu rosto se apagar lentamente,
vi meu lenço bordado esmaecer
de tantas lágrimas que abrigou
do alto da janela
o mundo parece tão geométrico
faz tanto sentido e
sentido nenhum ao mesmo tempo.
Contemple essa reta imaginária
Esse infinito concreto
feito de vigas, tijolos e tetos
Que encobrem a vergonha
A vergonha de existir
De questionar surdamente
E não obter respostas...
Contemple essa palavra e
sinta,
veja como ela nos alivia
de toda mediocridade:
- poesia.