TATUAGEM DE MIM

Sou vaga, reticente...
Minha mente é um céu aberto
Em meio aos infernos que me tragam.
Não tenho tempo para desafetos,
Mas também me custa o perdão.
Quero que todos os males
Passem distantes dos que amo e dos que me amam.
Quero andar na rua sem temer inimigos
Nem aplacar as rugas da indecisão
Com escolhas aleatórias e desesperadas.
Guardo meus fantasmas em caixas.
Quando querem partir, eles se vão.
Joguei fora os cadeados
Não suporto a boa-vontade das gaiolas.
Meus pássaros entram e saem da minha casa.
Sou o que escrevo e o que deixo de falar.
Não trago o definitivo. E o eterno,
faz tempo, deixou de ser o pote de ouro
ao fim do arco-íris das minhas sandices infantis.
Ninguém me merece mais que eu mesma.
Ninguém tem meu cheiro, minha pele, minha boca
de mordiscar morangos frescos ao fim da tarde.
Sou a mais perfeita imperfeição que posso ser.
Tenho um nariz imperfeito, dentes imperfeitos, rosto imperfeito...
E tudo combina. Tudo se encaixa.
Joguei no mar as promessas de antes.
Sou o que sou agora
E a luz da minha paz incomoda as dores dos que se distanciaram.
Não sinto mais falta nem me importa a saudade insensata.
Vivo como quem carrega flores na bagagem
E um enorme sorriso para quem quer a minha lágrima desesperada.
Não sou mais um poço onde me perco
Muito menos um túnel escuro e sem saída.
Catei todas as mentiras e lancei na tempestade
Como num ritual de morte transmutada em cinzas.
Cremei a angústia das esperas.
Sou uma espantosa sensação de mim mesma.
Gosto de me ver no espelho. De ser agarrada e beijada ao extremo.
Não sinto mais ciúme.
Encontrei num cantinho secreto em mim
Tudo o que andava buscando por aí.
Sou o rumo certo. Sou a rosa-dos-ventos.
Bússola para os perdidos. Encanto para os desiludidos.
Depois de tanto buscar a morte, dei de cara com a vida
E vi que a vida tem a minha cara. A cara de cada um.
Sou mãe de filhos belos, gatos manhosos e pássaros livres.
Sou mulher plena. Mulher que não precisa de homem para ser mulher.
Mulher que precisa de alguém para fazer feliz.
Não tenho sexo nem nexo.
Sou o relógio espatifado por meu pai num dia de loucura
E não tenho pressa nenhuma.
Caminho como se estivesse sobre um riacho doce
E passeio pelo dia como quem se adivinha mar imenso.
Sou céu. Sou inferno. Sou o que posso ser porque sou quem sou.
Não traio. Não mato. Não machuco.
Deixo que tudo seja.
Sinto dor porque sou humana.
Tive mágoas tatuadas na alma porque permiti.
Não tenho muitas dúvidas e quase nenhuma certeza.
Sou desenho que não se apaga no tempo em que existo e que existe em
mim.
Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 05/10/2008
Código do texto: T1213375
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.