Chuva grossa

As horas passam
e não se tem explicação
(como se constrói um eu pero-
lado?)

Com passos acinzentados
as horas passam
esmiuço pesadelos
diante de espelhos
toda idealização é sonora e demora
a ser conquistada
nos sons da noite sonhos lavados

Passam-se horas sem descanso
no oceano dos pensamentos
não compreendo bem
quando tu vens...

Faíscas e grãos de areia
arranhando o silêncio
tal qual relâmpagos 
riscando o (br)eu de prata 

Há quem nunca entenderá
porque a voz das palavras
é tão forte quanto o desejo
na desinvenção do caos,
jazz 
a costurar balões no céu
afogando a fome e os vermes...
penetrando a pele
no pulsar... no calor das mãos
no azular
 
ziguezagueando intenções
no toque das horas
das (h)eras soltas
nos ponteiros nus
luas e luas
               descristalizando
                         [crisálidas
respirações, dedos e avessos
a envolver os signos
nas fabricações dos corpos
junto ao cheiro agridoce
suores e tinta fresca ao mar

As horas passam
e somente
quem domestica e
domina a poesia viva
pode explicar a construção
de seres assim... tão...
pero_lados.

Rosangela_Aliberti
São Paulo, 04.X.08
Mote: Oficina de Rascunhos Poéticos
Foto Andrzej Radka

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