Música de funeral
Pianos desenham a música da alma.
É uma pena que eu não saiba tocar.
É uma pena que meu tocador particular
só tenha memorizado músicas de funerais.
Eu era aquele de poucos amigos
de boas noites e muita ética.
Eu era aquele que não temia o espelho.
Agora, me diga, onde parei?
Literalmente, no seu armário
Provavelmente debaixo da cama,
esperando o momento certo
para puxar-lhe os pés.
Criança medrosa, não pode me ver
Criança mimada, eu não vou te dar
Nenhum presente...
Você que me deve a prova,
Você que me deve a vida de volta
Você que me deve o prêmio
de te ver cair.
Será que você não percebe?
Eu não sou o bicho-papão,
sou apenas a imagem do futuro
desenhada em seu espelho
É uma pena que meu tocador particular
só tenha memorizado
músicas de funeral.
Em termo de sangue, você está digno
Em termo de sangue, o meu foi suado,
preso, enterrado, sufocado, tocado
pelos fantasmas de meu passado.
Será que você não percebe?
Eu só quero o que você me roubou
Eu só quero reconstruir meu castelo de areia
que um dia você pisou.
Agora, me diga, onde parei?
Literalmente dentro do seu sangue
Provavelmente te destruindo aos poucos...
Veja bem, não sou um vírus.
Sou aquele piano que prendeu sua alma.
E é uma pena que eu não saiba tocar
é uma pena que meu tocador particular
só tenha memorizado músicas de funerais.