CORRESPONDÊNCIA À «CARTA A ... (VI)»

Correspondo à «Carta a ... (VI)», publicada no RdL em 28/09/2008, Código do texto: T1201112, em que a Poeta Galega resolve uma pergunta indiscreta que eu lhe fizera:

Cara Poeta, que respondes lírica a minha pergunta indiscreta, permite (e desculpa) que, por minha vez, corresponda a tua missiva sublime e "sublimante" (gosto, como conheces, da palavra e do sufixo: “sublime” coloca-me "sob o limite", mas próximo dele, e "-ante" introduz-me na ação, na "condição de agente").

Ofereces-me traços líricos do sentido, sem dúvida certos, que eu, indiscreto, parafraseio:

* encher as velas...

e navegar à procura do tesouro nos mares impossíveis

* pulsar os nervos...

até estremecer, cordial, a chuva benzedora

* fechar os lábios com beijos...

e as arelas no fogo de sóis iniciados

* ouvir os risos...

e desde a fronteira das sombras desabrochá-los

* rir os medos...

mudando-os num imenso arco-da-velha destemido

* temer os olhos...

que abrasam como auroras de vida descoberta

* olhar adentro...

no poço sem medida dos sentimentos moços

* lamber o tempo...

como se fosse a pele úmida e suave da pessoa amada

* medir o alento...

desde a explosão inicial do universo dos sonhos

* ler atento nos corações...

e descobrir mundos de carinho brincalhão

* ser cuidador, coluna, conchego, leme, luar, loureiro ...:

apenas ser, só ser, nada menos que ser!

* errar com talento...

ou sem talento, mas errar nos labirintos humanos

* tocar com ardor...

melodias e suores dos entrelaços carnais

* dedilhar sentimentos...

como pétalas leves ou fios de espuma silenciosa

* acender fantasias...

até ao incêndio que reduza a cinzas os ódios todos

* criar conforto arredor...

deitado na erva lene do agarimo gentil

* sonhar maravilhas...

e moldá-las como sinos de esperança a tangeres loucos

* brincar com os cabelos...

das ninfas em flor virginal e dos faunos ingénuos

* extasiar-se de amor...

até ao extravio voador por entre as melodias das esferas

* saber do segredo profundo da paixão...

e gozá-lo na bebedeira de luares tão remissos quanto exaltados