A MORAL DO AMOR
O trovão não faz mensurações de seus abalos;
As ondas não se importam com os estragos de sua varredura;
O fogo pouco caso faz dos graus de sua queimadura;
Um terremoto não alivia seus tremores para evitar estragos!
O mar engole impiedoso até a mais audaz embarcação;
A queda democratiza as massas opostas sob a lei da gravidade;
Doença alguma arrefece por desistir de sua própria intensidade;
O corpo sensual não consegue abdicar de exalar provocação!
O tempo não retém os seus ponteiros para conter nossa velhice;
A chuva não retorna para o alto quando se dá o seu cair;
Quando o desejo é transbordante, fica impossível transigir;
Quando a sapiência não tem sabor, come-se lentilhas de burrice!
Será que amar requer clausuras de valores?
Pensemos nas flores desprovidas de espinhos;
Quem pressupõe ares prisioneiros de corredores?
De tanto no cercar de senhores, morremos escravos sozinhos!