Do infindável plano

Do infindável plano

Ao ver-me um crepúsculo na alma

Sedenta de vermelho prenunciando a treva

A brisa gélida de outrem me toca insuportável

Urge então a solidão de laborar a existência

Despir-se das correntes do tempo e do mundo

E falar e falar e gritar incompreensivelmente

Sem o terror de que alguém me ouça

Um outro outro a me fiscalizar a sanidade

Impondo-me a mortalidade da sua vida

Antes a treva eterna da caverna -

Nela há mais luz que o peremptório dia –

Que a solidão da incompreensão

O cancro do tempo nos consome a cada atitude irrefletida

Enquanto se abandona em agonia o pensamento

O universo que, infinito, desconhece a luz

Meus olhos querem ver na escuridão

Pois que são dotados de luz própria

E querem libertar-se da cegueira

Imploram pelo desconhecimento

Por transpor a pequenez do mundo

E a escravidão da vida cíclica

Quando o crepúsculo finalmente chega

Assombra-me a inevitável manhã

Quero o universo que não gira

Onde a noite interminável nos divisa

Desprezo a força da carne e do sorriso

Meras sombras do que somos realmente

Quero o infindável plano: o paraíso

Viver rasgando ciclos e, cada vez, eternamente

(Djalma Silveira)