A POESIA
Os poetas de mim falam tanto
Com definições tentam me explicar.
Há muito desejo me pronunciar,
Mas sem as mãos de meus pais, os Poetas,
Ourives das palavras, in: “Profissão de fé” de Bilac
Jamais ao mundo revelaria
Sentimentos, as emoções do coração.
Sou a Poesia, sim a poesia da vida.
Meus pais, meus criadores,
No momento em que me retratam
Chamam-me de trovas, sonetos e poemas.
O que a mim não importa
Sou um mar de encantos...
Ao meu público admirador.
Quem vos fala é a Poesia
Sou disposta em frases curtas
Que me chamam de versos
O meu conjunto, de estrofes.
Quanto à forma, sou soneto ou poema
E muita gente não percebe
A distinção existente, mas tudo é poesia,
Que em muito amor se resume:
Verdades, sentimentos, entre outros.
Não sou órfã!
Inegavelmente, sou filha dos Poetas,
Pois são eles que me dão a forma.
Muito envaidecida sou
Quando me consideram imortal.
Minhas origens são remotas.
Já fui chamada de cantigas
Com várias denominações:
De Amor, de Amigo,
De Escárnio ou de Maldizer,
Nos idos da Idade Média
Na “Ribeirinha”, dos ditos de Taveirós,
E muitos trovadores
Registros da emoção de uma época.
Querida sou pelos românticos
Aos olhos dos grandes amantes
Na verdade sou eu quem encanta
Trago paz, alegria, alívios de angústias...
Quantos sofrem por mim,
Vítimas do famoso “mal-do-século”,
Bendito sofrimento por amor...
Desde a época de Goethe, Schiller e Byron,
Triunvirato ainda decantado.
Tenho poder de síntese invejável
Vejam como na evolução da família,
Revelo em quatro pequenos versículos:
“Um encontro, uma falinha,
O beijo, o noivado, o altar.
Depois, o quarto e a cozinha
E um bebezinho a chorar!...”
É preciso dizer mais?
No auge da emoção
Pelos românticos sou ambicionada
Sinto-me absorvida por seus olhares
E quando notam meu significado
Sentem-se realizados, extasiados...
Sou até decorada ou declamada.
Venço distâncias incríveis
Para manter o fogo sagrado do amor...
Alivio a alma dos amantes,
Revelo o interior das pessoas
Produzo, emoções, rios de lágrimas,
Conduzindo-as ao casamento.
Trago alívio e tensão
Dependo da ocasião
Mantenho vivo o amor
Mas em qualquer condição
Sem mim, o mundo seria vazio...
Sem mim, digo-lhes mais:
As flores não teriam cores nem vida...
Não se poderia sentir a beleza dos pássaros...
Não se perceberia a grandeza do luar...
A importância de um olhar...
O afeto de mãos e dedos entrelaçados...
A emoção do primeiro beijo...
Enfim, a vontade de viver.
Não quis fazer apólogo,
É coisa do Velho Machado
Peço desculpas aos Poetas
Por tamanha intromissão.
Deles sempre dependerei
Para transmitir emoção.
Sempre contarei com mão amiga
De um Poeta perspicaz
O modelador de palavras
Espargindo, para o mundo, emoções...
Mais uma vez peço-lhes desculpas,
Quase virei epopéia,
Invejando a Luis de Camões.
AGO 90