Certas Palavras
Eu namoro certas palavras
Ate que elas se sintam
E tornem-se versos
Sob minhas mãos
Eu vou namorando certas palavras
Vou arquitetando um universo brilhante
Pra elas
Ate que delas surjam
Amores curvilíneos
Raivas rasantes
Saudades profundas e
Retas soberbamente belas
Vou namorando certas palavras
Que de vielas
Vão se tornando vilarejos
Cidades
Metrópoles
Hiatos, ilhas de sanidade...
Elas vão se construindo no papel
Constituindo frases, fases...
Fotografias
De um instante
Com a fragrância da realidade
Eu namoro certas palavras
É sempre um amor efêmero
Eu as ouço
Ou as vejo
Fico encantado
Elas não saem do meu pensamento
Então coloco as
Jogo as dentro da minha poesia
E faz se então casamento
Entre a alegria
E o sentimento involuntário
E mais uma palavra roça minha língua
Mais uma palavra entra no meu vocabulário
Eu namoro certas palavras
Silenciosamente
Acho ate que ninguém sabe
Deixo que minha realidade
Passe como uma paralela
Por elas
Assim posso moldá-las
Muda-las
Deixa-las mudas
Conserva-las na geladeira
Coze-las na panela
Ate que elas surjam
Sujas ou límpidas
Belas ou esdrúxulas
E formem orações explicitas
Ou ridículas
E invadam um olhar
Um ouvido
Entrem num coração
Façam algum sentido
Encontrem algum motivo
Alem dos motivos
Do tempo em que ficavam soltas,
Solteiras vivendo comigo
Palavras certas palavras
Eu não sei
Mas me sinto
Um cafetão, um mafioso
Sinto-me dono de alguma delas
Às vezes tomo café
Com elas na cabeça
Doutas vezes cuspo as pela janela
Certas palavras
São como curvas no final de uma reta
São vertigens
chuvas
Em cima de passarelas
Que até fazem
Sentir-me poeta
Achando rimas
Em tudo
Em até no que me provem o contrario
E me excedo
Excito me diante delas...
E mais uma palavra roça minha língua
E mais uma palavra entra no meu vocabulário.