UMA LUZ SOBRE A LAMA
Eu vou me permitir um pouco de ironia pra colorir meu ócio;
E dizer que esse negócio de sinceridade é algo muito curioso;
Pensamento nu só na boca do furioso, ninguém convida o pobre pra sócio;
Rentável indústria é o divórcio, e todo candidato é herói venturoso!
A donzela ofendida geralmente se transforma entre quatro paredes;
Os inimigos dos prazeres adoram flertar com a dissimulação;
Até o belo sermão não costuma ser adotado pelo autor de seus dizeres;
E quanto aos donos dos poderes? Moram num casebre ou numa mansão?
Pergunte à madame se alguma vez ela já pulou a cerca;
Pergunte à beata se porventura já caiu em tentação;
Quem daria a sua vida para que a do próximo não se perca?
Quem negaria as palmas estendidas perante a lucrativa extorsão?
Eu vou sorrir porque me dá mais lucro do que chorar;
Mas quando esse teatro acabar, eu quero ver quem vai sobrar pra aplaudir;
Esse mundo dos espertos aos levianos tem o hábito de louvar;
Mas quando a Verdade despontar, o reto juízo será o último a sorrir!