Pós-Vida

quero aprender a sonhar com o nada

agora

para quando minha hora chegar

saber que deixarei

as mudanças

revolvendo-se

sempre

e

em silêncio

dizíveis apenas em canto

como se a vida de todos os seres

tivessem um pós-vida

ecoando

a revirar a memória

de quem tocamos

de alguma forma.

não sei o quê escrever

diante da imensidão vazia

e oceânica

imprevísivel

da vida a quem dôo um sentido

errante

mutante

as centelhas me agitam

arrancam-me de mim

quentes e dolorosas ao toque

clamando por uma chance

de nomear

resquícios

sombras

quase-revelações

ínfimas

colectivas

de mim.

Não é nada

tentativa vã

e não me acalma

porque pestanejo diante

da pupila oscilante do mundo

nem mesmo vôo

ou me rastejo

a implorar pelo cheiro da terra

úmida

que será meu manto

no instante final.

(Te amo, meu pai,

cuja pós-vida

entranha-se cade vez mais

naquilo que sou

de tua filha.)

Ana Paula Perissé
Enviado por Ana Paula Perissé em 02/09/2008
Reeditado em 03/09/2008
Código do texto: T1158285
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