Doce ilusão
Em lembrança de Arthur Schopenhauer (1788 - 1860)
A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata (Virginia Woolf)
Eu não sinto o novo
Não desejo tocar a alma da mudança
Já me esqueci das metamorfoses
Os seres humanos me chateiam
Ando cansado da hipocrisia manifesta no mundo
E das máscaras sem fim.
Eu não penso como os outros
Tenho horror aos bajuladores
E, sinceramente, não vejo importância neles
Mas estão em todos os lugares
Beijam, batem palmas, lambem os pés dos donos do poder
Se preciso for, vendem a alma ao diabo
Eu não suporto essa vida
Não me lembro se ela foi um dia diferente
O bom que agora posso escrever
Delinear os furos em minha alma pálida e
Revelar o desgosto de estar no mundo
A escrita, a poesia, os livros, as letras nos salvam
Facilitam a respiração e diminuem a negra taquicardia
As letras são pingos de chuva em asfalto quente de verão
No inverno auxiliam no aquecimento da mente inerte
Mas não apagam o eterno fogo do sofrimento
Doce sofrimento azul do mal-estar de permanecer vivo
Eu não sou assim...
Estou assim.
Tateio aqui e acolá
A normalidade da vida é esta
A falta, a incerteza, a vida que quer fugir com o corpo
Corpo que se conduz por idéias forjadas que avançam e machucam os mais “sensíveis”
Infelizmente, a humanidade não é humana
Homens e mulheres são coniventes e adoram deuses que não existem
Deificam animais e bípedes humanos que latem diante da cega galinha inerte no forno
Humanidade pálida e distante da perseverança
Homens e mulheres banais
Que labutam na nuvem do cinismo e na representação falida da felicidade.