NAMORANDO O VAZIO
NAMORANDO O VAZIO
A luz, que incide sobre os olhos meus,
Segue sua rota até desembocar no chão.
Não, nada mais opaco que o chão:
Nele, a luz não transpassa. Não logra,
Não chega a seu âmago. Não, ela não lhe desvenda e lhe penetra o Sortilégico arcano, sicariamente entregue á espessa neblina
Do preconceituoso obscurecimento nefando.
Não, ela naufraga, fracassa na empresa de conhecê-lo: conhecer
A real substância de seu jaez incógnito, misterioso,
Insondável, denso, interminável e invisível nevoeiro!
Não, nada além deste sentir austero e gélido
Não, nada além desta visão insossa, estática, extática, estéril
Não, nada além de um olhar fixado na magnética superfície
De horizontes inanes de descobertas paralisantemente catársicas,
Etéreas e digressões a plagas, que aos meus olhos sejam inéditas.
Ah, afinal, nada mais além do que esta angústia no olhar,
Sobretudo quando queda imerso em mar de vãs esperas, desertos,
Frustrações materializadas em vagalhões de maravilhosos sonhos:
Oh, infelizmente, a serem derramados num imensurável calderão De lancinantes desejos enérgicos, medonhos!
Sim, porém, na demora do olhar,
Degusto o chão. Sinto o gosto do cárcere, das chagas,
Do corte na carne feito pelo duro aço da lâmina da navalha.
Sinto a velocidade do sangue furtivo, a sua dinâmica efusão que Grassa-me pelo idealístico corpo letalmente ferido!
Sinto o plasma a prorromper do viés interno da psíquica máquina,
A escorrer pela pele da ideologia minha. Sinto sua mortal Laceração lírica.
Ah, essa é a impressão que eu tenho
Toda vez que me pego a contemplar o chão: chão do desespero!
Desespero que nasce do rancor de viver em silenciosa descrença
Contínua de que me advenham melhores e auspicosos momentos Na vida. E que estes possam permear quase vitaliciamente o fluxo Da minha hoje rotina mecanicista, da minha hoje rotina
Em jazigos da Metafísica metida, da minha rotina mamorando
A face aparente do chão da minha existência egoísta. Namorando,
Porfim, o horizonte em que não se consegue fazer penetrar-me a Vista, carente de aguerridas filosofias. Carente mesmo de suas dialéticas vísceras impressas na massa da universal filantropia.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA