Ansiedade
Lanço sobre o horizonte um olhar profundo
dando evasão a quimera de alcançar o futuro,
o olhar tanto anda, dá volta em meio mundo,
dói-me a vista ir tão longe, mal que não me curo.
Infeliz é essa ânsia que me devora
de impaciência me faltar e almejar imediatismo,
a ponto de querer avistar tudo agora
e me poupar da rotina que me prende ao comodismo.
Pessoas aconselham-me em tons serenos e leves:
“Tende paciência tudo há de passar,
o tempo sempre é demasiado breve
acomoda-te um pouco, põe-te a esperar.”
Mas tanto usufruí de minha paciência,
que resta-me pouco, duas gotas dum frasco,
ainda há acusações da consciência
remetendo à espera sentimento de asco.
Então aborda-me uma querência exasperada,
me deparo com o pouco tempo que me insiste,
é uma vontade de saber o que há de vir, mais nada,
mas vem-me conformações sobre o que agora existe.
Seria-me errado querer observar o futuro almejado?
Tanto sonhei fatos dele no passado,
há de me ser confortante saber seu andamento,
especular um pouco, que seja, traria-me alento.