A chuva
Quando eu chorei, choveu...
E percebi-me tão convalescente!
Pois pareceu-me um ato iminente
de solidariedade quanto as minhas lágrimas.
E era tanta água,
que embaçou-me a janela.
E pus-me a pensar em quanta mágoa
uns tem por aí mais do que eu,
e embaçam a vista, tamanho o pranto.
E eu tola me lamentando,
enquanto embaçava-me somente a janela!
Enxuguei minhas poucas lágrimas
logo que a chuva cessou,
como se fosse um ato natural,
tal como o seu declinar que findou.
Senti-me lisonjeada quanto as gotículas daquele dia,
que caíram do céu com tamanha harmonia,
para acompanharem minhas lágrimas,
pois permitiram-me a rica analogia
de que realmente tudo passa,
se vai com as lágrimas todas as lástimas.