Era tanto amor que não cabia

Poesia on line. Mote de 24.07.2008 Proposto por Vania Staggemeier:

SILÊNCIO

(pela concepção da proposta de Lya Luft)

Era tanto amor que não cabia

Maria Quitéria

Nós roubamos as estrelas e as mastigamos

com muitos risos e muita farra pelos dias,

fizemos com os astros tamanhas folias

e, sem ter um pouso, nus, viajamos;

nós deixamos derramar as tempestades,

criamos tantos raios e tanto trovão

misturados às fantasias e algumas verdades,

deitando loas de loucura e tesão;

depois metemos os dedos nos anéis de Saturno

e ele, escorrido de rimas, taciturno,

tentou um anelo em nossa devassa poesia,

e você, meu amor, foi no sopro sem valia

e fez tantas e com tantas se enturmou

deitando seu facho em criações tão perdidas,

que no vazio, calado e sofrido, se enfurnou

deixando o tesouro real entre as bandidas;

você entregou o ouro que juntos roubamos,

fez um estrago sem conserto e uma rachadura

- no Cosmo por onde nós dois trilhamos -

fazendo do silêncio um rio caudaloso de brochura

em que, ao final, dentre as chuvas e a lira

entre a minha crença e o teu ser, tão ateu,

viu que só na minha mão cabia a luva da pira;

porque eu sempre fui só tua e te queria meu.

Sampa, 24.07.2008 1:10hs

http://versosprofanos.blogspot.com/

Em O SILÊNCIO DOS AMANTES, seu retorno à ficção, Lya Luft mais uma vez nos surpreende com histórias ligadas por alguns de seus temas prediletos desde os primeiros livros: a incomunicabilidade e o silêncio entre pessoas que se amam ou deviam se amar, os conflitos familiares, a busca de um sentido da vida, rancores, incompreensão, mas também magia e amor nos relacionamentos.

Um casal supera as dores do passado e encontra um novo caminho bastante singular; a rotina não permite enxergar o drama de quem está ao nosso lado; a mágoa e a revolta explodem numa libertação violenta; o preconceito em relação ao diferente pode ser mortal; a superficialidade impede de viver um verdadeiro amor; a morte revela o valor da vida: todos somos tocados pelo mistério.

Com coragem e delicadeza, Lya Luft nos provoca a vermos sob um novo prisma o nosso cotidiano, pressentindo a imprevisibilidade, que o torna mais rico. "Ser humano, com toda a miséria e grandeza que isso significa, não é apenas precisar de amparo e consolo, mas também enxergar, abaixo da superfície e atrás das paredes, novas possibilidades de viver e se relacionar." - completa a autora.