A DEMOCRACIA DO PÓ
A menina cresceu e não quer mais bonecas, pois prefere a beleza e a grife;
O menino vigorou e o carrinho deixou, ele agora quer músculos e academia;
A alegria pra ela se resume na moda, se fora dela ela é triste;
Vencer pra ele é ter o nariz em riste, exibindo o corpo que seu ego deseja!
Ela ama o batom, é escrava da sombra, é refém da tintura;
Passa fome e tontura, pois qualquer coisa é melhor que odiar o próprio corpo;
Não desiste nem mede esforço, mesmo que a beleza lhe cobre o preço da loucura;
Extrema dor ela atura, desde que o bisturi torne o indesejável morto!
Ele come pastilhas, carrega suas pílulas e só fala em suplementos;
Seus melhores momentos são os vãos elogios que recebe das saias imbecis;
Quer fazê-lo infeliz? Injete sabedoria e não bombas em seu pensamento;
Quer anabolizar seu sofrimento? Diga-lhe que seus argumentos são infantis!
Juventude de imatura ilusão, que se esqueceu onde deixou seu conteúdo;
A vaidade é seu frágil escudo, pois seu invólucro fala mais alto;
Esquece que o tempo descerá do salto, que a velhice esmagará o músculo;
E que nos dias de seu crepúsculo, todo vigor terá sido incauto!
Quem não plantar flores por dentro, morrerá com espinhos por fora;
Quem não pensa no amanhã agora, pagará seu débito quando a vida anoitecer;
Saber viver é jamais esquecer, que da interna beleza é que se faz uma história;
Pois o que hoje é escória e o que ontem foi encanto, no mesmo pó vão perecer!!