A DEMOCRACIA DO PÓ

A menina cresceu e não quer mais bonecas, pois prefere a beleza e a grife;

O menino vigorou e o carrinho deixou, ele agora quer músculos e academia;

A alegria pra ela se resume na moda, se fora dela ela é triste;

Vencer pra ele é ter o nariz em riste, exibindo o corpo que seu ego deseja!

Ela ama o batom, é escrava da sombra, é refém da tintura;

Passa fome e tontura, pois qualquer coisa é melhor que odiar o próprio corpo;

Não desiste nem mede esforço, mesmo que a beleza lhe cobre o preço da loucura;

Extrema dor ela atura, desde que o bisturi torne o indesejável morto!

Ele come pastilhas, carrega suas pílulas e só fala em suplementos;

Seus melhores momentos são os vãos elogios que recebe das saias imbecis;

Quer fazê-lo infeliz? Injete sabedoria e não bombas em seu pensamento;

Quer anabolizar seu sofrimento? Diga-lhe que seus argumentos são infantis!

Juventude de imatura ilusão, que se esqueceu onde deixou seu conteúdo;

A vaidade é seu frágil escudo, pois seu invólucro fala mais alto;

Esquece que o tempo descerá do salto, que a velhice esmagará o músculo;

E que nos dias de seu crepúsculo, todo vigor terá sido incauto!

Quem não plantar flores por dentro, morrerá com espinhos por fora;

Quem não pensa no amanhã agora, pagará seu débito quando a vida anoitecer;

Saber viver é jamais esquecer, que da interna beleza é que se faz uma história;

Pois o que hoje é escória e o que ontem foi encanto, no mesmo pó vão perecer!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 23/07/2008
Código do texto: T1093687
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