Enfim a noite
Passo as noites
pensando no dia.
Choro às noites
revivendo agonias.
Vegeto em meu leito
preso às memórias
que me frustram,
me corrompem.
Onde mora a noite?
Não sou seu íntimo,
vivo-a sob luzes e,
apesar da claridade,
rendo-me à cegueira
da oca escuridão.
Revivo as cinzas,
mas delas não renasço.
Resumo-me a um espaço
triste, frio, opaco.
Questiono-me
qual o sabor da brisa
banhada pela Lua
da noite clara.
Ouço sua voz
chamando por mim.
O acender da luz
ilumina meus passos
sem rumo.
Quebram-se as correntes,
desforra-se a cama,
Abre-se a porta.
Enfim a noite:
o palco do luar,
onde escondem-se
as mais loucas cenas de amor.