Nas ruas

Leitos dessa enxurrada de gente

Retocadas, maquiadas periodicamente,

Ou com suas fachadas ultrajadas impunemente.

São as ruas que acolhem a todos indiscriminadamente

Caras de prédios e de pessoas que se entreolham fortuitamente

No frenesi constante dessa onda de gente

O que será de troca que há entrementes?

Que nos faz tão bem perder-se distraidamente

Por entre as suas artérias mesmo tão carentes?

Será por seus vários diversos monumentos?

Pela identidade com o passar do tempo?

São suas referências o desfile dos nossos momentos

Aquele prédio público, um ar do um parque lúdico que tenho no pensamento.

Vielas, avenidas engarrafadas, esquinas arriscadas com seus contratempos...

Cafés, bares, bancas, fiteiros, livrarias, lojas de departamento...

Cinemas mortos pelo desenvolvimento

Igrejas seculares sem o devido bom tratamento

Gente sofrida de mãos estendidas em seus cruzamentos...

Mas ali há vida em ebulição

Que não vemos fácil na “civilização”

Nas maquetes mostradas na televisão

Nos filmes da programação que mais parecem ficção

E que distam milênios da nossa situação

Quem sabe assim temos a ilusão

Que desfrutaremos dessa evolução.

Sem jamais perdermos nossa emoção.