Inconformismo
Tudo bem que te preocupes com o mundo.
Que te preocupes com a vida,
com a lógica dos fatos e a finalidade das coisas.
Tudo bem que tudo pareça sem sentido
se não houver veracidade nas palavras
- geralmente carregadas de emoções, que
nos enganam e nos distraem do foco.
Tudo bem que tu prefiras lançar pensamentos
em direção a novas terras e novas eras
e que tua mente esteja sempre ocupada
com as soluções para as chagas da nação planeta.
Tudo bem que tu contestes a injustiça naquilo
em que a justiça não é justa, e que defendas a Verdade,
pois que no Universo só existe uma Verdade,
mesmo que nem todos consigam vê-la.
Tudo bem se te sentes insatisfeito,
tudo bem se poucos ouvem os violinos,
tudo bem se nada dura para sempre.
Se as lágrimas interrompem os acontecimentos
e atrasam seus progressos,
tudo bem que te incomodes,
que aches o futuro obscuro demais
para atitudes precipitadas, e que o homem
tenha que agir com cautela e que tenha que agir já.
Tudo bem que as pessoas sejam tão egoístas,
de tão fraco raciocínio e tão ofuscada visão
para o que está bem diante delas –
a morte da natureza,
a profundidade da fome,
o deboche dos corruptos –
incapazes de perceber o rumo tosco ao qual
são conduzidas e a aceitação que se impõem
ao cruzar os braços e pagarem para poder sorrir.
Tudo bem que teu fogo interior queime e arda
e mesmo assim tu não o queiras entender,
fingindo não senti-lo,
aprendendo a ignorá-lo,
fugindo de ti mesmo,
abrindo mão de teus direitos por amor genuíno,
esperançoso de mudança e adaptação aos seres humanos
apenas para fazê-los mais felizes,
a fim de nunca te sentires só, deixado no vácuo,
num estado de ser oco.
Tudo bem que tu não saibas ouvir
o silêncio gritante que te habita o peito
e que não consigas mudar o que é o mundo lá fora
por não praticar sentir o mundo que tu és dentro.
Tudo bem, tu que sabes.
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