EQÜIDISTANTES
EQÜIDISTANTES
Juliana S. Valis
Tínhamos sonhos opostos
Pela simetria espúria do mundo,
Queríamos tempo, no fundo,
Mas, um dia, tudo se foi...
E mudo ficou nosso grito,
Nosso sonho sublime de paz ?
Nosso gesto humano e aflito
De protesto não volta jamais ?
Ah, não me venha com discursos vazios
Sobre a moderna política de outrora !
A esquerda de ontem é a direita de agora,
E tudo se move por interesses tão frios
Que o amor se afoga nos rios da humana insensatez...
E você, o que dirá dessa vez ?
Dirá que todos são loucos,
Que o capitalismo se suicida ao poucos,
E o dinheiro nos dita suas leis ?
Pois guarde as suas idéias,
Se não forem tão valiosas,
Se não derem imagens vistosas,
O que serão, além de pilhérias ?
Sim, guarde no seu coração
Tudo o que puder mantê-lo humano,
Além da injustiça e da ambição,
Além do mundo tão insano,
Veja que as lágrimas se vão,
Rindo do nosso desengano !
E se ainda assim lhe parecer
Todo sonho de amor "piegas",
Espere que a dor irá trazer
À sua vida novas regras,
E tão velhas quanto o amanhecer
Da vida efêmera e sem tréguas !
Enfim, tínhamos sonhos opostos,
Você sonhava com "bens"; eu pensava no "bem",
Mas, sem calma, ficamos sem postos,
Eqüidistantes na alma de alguém...
E toda chama da paz que restar,
Sem jamais descuidar de ninguém,
Um dia, entre a terra e o mar,
Verá o humanismo que vem
Perguntar ao bem: onde está
A justiça que o mundo não tem ?