Carta ao Porvir
Desregrado em devaneio, sentado ao léu das lembranças de sentimentos sem memória, sigo apreciando o porvir da história justa a ser contada.
Sem narrativa fugaz ou autor capaz de dar-lhe forma ou margem; completamente amorfas, aprecio o porvir dos tempos.
Sentado ao monte das léguas enxergo este porvir quedante e alquebrante de tempos imemoriais que se estalam em desatino no povaréu de quedas claudicantes do além-mar fremido de meu coração.
Sigo sem rumo ou rumor de estória escrita e não dita, seguindo caminhos que jamais vi ou verei algum dia. Sigo com a certeza de que o tempo é curto e sem memória, que outrora se chamava fugaz, sem o topor angustiante e desafiador que nos leva às loucuras de nossas paixões.
É verdade. Da loucura provém a sanidade, como simbiose que não se pode existir entre a dualidade água/fogo, amor/ódio, sede/paixão.
Dos arrebóis de cada manhã vem o prelúdio; chamado algoz à realidade que desperta o sono pueril da criança e que dá ao bento apaixonado sua frugalidade senil.
Sim! Sigo no devaneio destas letras em meio à lascívia causada pela ausência da norma culta, corroborada pelo frenesi de linhas que se querem libertar da mansarda vil da ponta da caneta.
Abram-se os pombais e vejam como são aladas estas letras e revoadas estas linhas que se aglutinam no cabedal jamais visto por aqueles que buscam a loucura à razão.
São sinônimos vivazes de memórias sem lembrança que se esvoaçam em frases sem sentido, mas que traduzem o espírito calmo do poeta e de sua arte; que pretensamente diz ao mistral: estarei lá!
Não vos do-lho tal certeza ainda, dado ao léu de incertezas do futuro. São alcatifas de sonhos que se estendem na esperança de solução para o desejo contido, acorrentado ao fundo do ser intimo preso à norma da língua, mas que se exibe como desejo profano e ardente no coração alheio.
Não vos digo que o desejo ainda existe, mas sua brasa ainda perene é viva e está pronta para ser desperta.
Assim, encerro mais esta intempérie, sem saber ao certo aonde ir, como chegar e como ficar; sem procurar estabelecer causas ou conseqüências algumas de um desejo simples de um jovem que se diz poeta.