AQUARELAS DE MIM

AQUARELAS DE MIM

Erijo monólitos de mim quando escrevo

Erijo exílios em mim quando escrevo

Erijo céticas catedrais de paz em mim quando escrevo

Erijo no chão de cimento da minha verve

Girassóis do mágico vento quando escrevo.

Faço do silêncio interno

A mais fragorosa música quando eu escrevo

Faço da crédula e velhaca ressonância dos

Corais de zagais modernos

Estro para revelar o sabor malsão de seu mel malévolo

Quando escrevo.

Pincelo alcovas para o vácuo dormir comigo

Quando escrevo.

Pincelo AKs-47 para soçobrar os majestosos castelos da demagoga e harpíaca

Eloqüência quando escrevo.

Pincelo uma miríade de pernas sôfregas por cosmopolismo

Quando eu escrevo.

Pincelo heterônimos bidimensionais

Quando escrevo.

Degusto o sol da catarse

Ao pincelar a mim mesmo quando escrevo.

Sou disco bicromático quando escrevo.

Sou relva, revoada e guepardo quando escrevo.

Sou faca cega, lâmina de dois gumes e pedra lascada quando escrevo.

Sou água-viva, letargia e águia quando escrevo.

Sou aquarela sem pais, aquarela sem limiar e aquarela sem medo.

Afinal, quando eu escrevo,

Sou aquarela inerme, aquarela do caos, aquarela indigente:

Sem nome, sem baile, sem lápide, sem brumas ou testamento!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA